Incômodo
Jun 22, 2021
Thainá Carvalho
Há em todo caso
um punho
a ser engolido
o amor, por exemplo
e seu choro em concha
ao pé do ouvido
ou uma distensão azul
muito fina e muito azul
um golpe na pupila de quem dorme
sob o céu descoberto
de meio-dia.
Uma agonia, esse punho
preso na garganta
de quem vive e se derrama
um pouco
de quem morre e descansa
um pouco
de toda forma, um grito perverso
e primordial
esse punho que geme
gutural na noite
no sono em revolta
a mão se abrindo, abrindo, toda
vem vindo, aberta
vômito
a coragem toda
saindo pela boca.