Incômodo

Thainá Carvalho

Há em todo caso

um punho

a ser engolido

o amor, por exemplo

e seu choro em concha

ao pé do ouvido

ou uma distensão azul

muito fina e muito azul

um golpe na pupila de quem dorme

sob o céu descoberto

de meio-dia.

Uma agonia, esse punho

preso na garganta

de quem vive e se derrama

um pouco

de quem morre e descansa

um pouco

de toda forma, um grito perverso

e primordial

esse punho que geme

gutural na noite

no sono em revolta

a mão se abrindo, abrindo, toda

vem vindo, aberta

vômito

a coragem toda

saindo pela boca.

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Thainá Carvalho

Escritora, curadora e revisora. “As coisas andam meio desalmadas” (Penalux, 2020). Editora da Revista Desvario e coorganizadora do Sarauema. ig @oxente_thaina