Memorial do Terrário
thainá carvalho
Sobre a mesa de centro da sala, cabe meu peito. Comprimido em um vaso de barro pequeno, cheio de terra escura. O barro se expande quando a água invade suas bordas, os poros da terra, traçando caminhos diversos para chegar ao mesmo lugar: um fundo oco onde se há de habitar.
No fim, deitar sobre a superfície de mim mesma, esse molde imperfeito.
No fim, sujar as mãos de barro.
Inquieto, sobre a mesa de centro da sala, ainda meu peito. Bate forte. Há plantas, já mortas tantas vezes, e casas em miniatura que simulam a vida sob um regador. Parece até não haver muito a recordar. Parece até não haver muito. Mas a busca segue, mesmo sentada no sofá, mesmo na porta da frente fechada todo o tempo. Todo o tempo também não é muito, sinto isso quando vejo o dia escoar pelas mãos, as horas estreitinhas enquanto tomo um copo de água.
De novo, a água. Meu dia líquido.
Entre tudo tão igual, um mergulho na memória. O cheiro de terra muda. A submersão é diferente.