O Amor em breve anatomia das horas
Venho trazer dois poemas do meu novo livro O Amor em breve anatomia das horas. A obra se divide em cinco partes: noite, madrugada, manhã, meio-dia e fim de tarde. Cinquenta poesias se espalham ao longo dos períodos de um dia para contar a história de amor de uma vida inteira, pois o amor relativiza o tempo. Quando amamos, o tempo parece passar rápido demais ou cada momento pequeno se demora com a gente para sempre. O Amor em breve anatomia das horas é uma forma de usar a poesia para dissecar esses sentimentos, essas sensações paradoxais que se complementam
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O acidente do órgão
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A membrana fina dos dias
impede o ar
a passagem,
busco respiro
nas coisas mais imediatas
fugidias
pouco ou quase nada
e os pulmões inflam
até capotar
e girar girar
inspirar
o respiro indelével
do mundo bravio,
a ambição
em busca da vida mesma
do espelho ideal
inspirar
o respiro da vírgula
em busca da morte própria
da oração,
inspirar
o que a pequeneza
pequeníssima
não toca:
o tato específico
do amor,
a miragem turva
do raio solar.
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Distância
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Tenho que lhe contar
dos minutos lagarteando ao sol,
eram pequenos e breves
e verdes
com um brilho mágico
de amansar incertezas
na calma do ficar
só ficar
e perceber a expansão do mundo
no abraço de dois seres
no sorriso fruto escorrendo pela boca
para se plantar no chão, nas pedras
onde quedam os segundos
tomando luz.
Tenho que lhe contar
o que vejo, sendo tudo seus olhos
pois longe é muito longe sem você
e arremedo seu pensar e seu dizer:
— Esse tempo se iluminando assim
é coisa da sua cabeça
que adoro.
E você ri daí mesmo, eu sei
preenchendo a superfície que se estende entre nós,
seu colo quente tocando miudezas no meu cabelo
enquanto observamos o dia e o amor
em passagem anatômica das horas.